DAlila Teles Veras

 

 

VESTÍGIOS

 

 

Vestígios . Livro corajoso ! Não é brincadeira transformar o tipo de emoção que ele aborda em literatura . Você realizou uma vivência estética do luto . Ultrapassou-o esteticamente. “ Travessia ”, para dizermos, com Guimarães, do poder da linguagem .  

Psicólogos certamente têm muito a dizer .

Eu não ignoro o aspecto psicológico do ato de escrever , seja este de que tipo for. Mas considero que o escrever-arte vai além , sem abolir tal função . Põe-nos em contato com algo mais elevado que o nível psicológico .

 Gostei muito da divisão do livro e dos títulos das partes . Títulos expressivos e poéticos, delicadeza e força conjugadas.

 

Interessante a parte central Um corpo não mais – , o fato morte em si , ser a menor . Um verdadeiro corte . O “ antes ” (A rotina da perda ) e o “ depois ” (Da alma em desalinho ) distendem-se, o que sugere uma série de reflexões e sentidos .

 

Da primeira parte , gosto muito de Solidões . Da segunda , de Memória . Da terceira , de Desobriga. Este me soa como um dos poemas mais sintéticos do livro . Condensa em metáforas a vivência juvenil revivida e repensada agora .

 

Não sei se tenho elementos para justificar , mas sinto este seu livro conseguindo o equilíbrio de não deixar de lado a clareza do tema , o referencial temático a que se propõe e, ao mesmo tempo , dar-lhe tratamento literário . Creio que , se enveredasse mais pela transfiguração da linguagem , o referencial não ficaria explícito . E sua intenção era não encobri-lo. Você caminhou no fio da navalha .

 

É um livro muito gostoso . Creio ser um daqueles que a gente sempre retoma quando quer ver na palavra de outro certas vivências marcantes da vida . E numa palavra não cheia de sentimentalismo exacerbado, mas de sentimento profundo , refletido e trabalhado poeticamente.

 

Deise Assumpção Mauá, 25/12/2003

 

Grata pelo seu Vestígios que releio com prazer renovado e a certeza de ter nas mãos um trabalho maduro , que nem de longe  resvala na pieguice ou na morbidez ( preocupação sobre que conversamos). A pungência do tema bem trabalhado - a poeta suplantando a filha e dissecando a dor sob os mais diversos ângulos - alcança uma difícil delicadeza   que é possível a quem tem tamanha intimidade com a palavra . Está forte ao expor as tantas faces da(s)  fagilidade(s), de maneira tão sensível . Raras vezes a palavra , o verso é tão feliz (?) ao mostrar o que vai no fundo da alma . Um belo trabalho . Obrigada pelo privilégio .

 Rosana (Chrispim), Campinas , SP

Prezada Dalila,  

Agradeço-lhe muito , mesmo , o privilégio de ser um dos destinatários de " Vestígios ". Gostei, particularmente , de "Das mortes ", uma síntese lírica dos sentimentos que decorrem do morrer nesta sociedade .  

 Tenho um grande interesse no tema da morte e sobre ele organizei dois seminários aqui na USP. De um deles resultou um livro coletivo : "A Morte e os Mortos na Sociedade Brasileira ". Somos um povo que lida mal com morte e com o luto - e os compreende mal . Sua poesia nos ajuda a decifrar os sentimentos belos que podem fluir da morte de alguém que amamos, os sentimentos que se articulam nessa palavra sempre misteriosa que é palavra saudade.

Cumprimento-a pela disposição de compartilhar comigo seus sentimentos.

Grande abraço do  

(Prof. José de Souza) Martins, São Paulo, Capital

 

 

 

Recebi seu candente " Vestígios ", que li de uma assentada.

Trabalho de profundo mergulho espiritual , afetivo e psicológico . Nele você faz uma sentida e ao mesmo tempo poética homenagem à sua mãe , nessa dolorida tentativa
de compreender a perda , a passagem do tempo , a ausência e a saudade de quem nos deixa sem pedir licença . Concordo com sua postura ao afirmar que " a palavra   me interessa" e é ela mesmo que deve nortear nosso processo criativo . A comunicação dispensa chavecosidades, gorduras estilísticas , excessos palavrosos . O minimalismo poético reduz a mensagem ao essencial e qualquer tentativa de uma poesia mais discursiva desvia-se do  propósito . Assim , sua formatação poética , buscando sempre a economia de meios , o enxugamento formal , é solução ou recurso criativo que atua de forma positiva na construção , em sintonia com uma preocupação exclusiva com o equilíbrio entre a forma e o conteúdo , o que , em última análise , deve ser a preocupação de todo escritor , perseguindo sempre a pureza do vocábulo , sua poção mínima , essencial . Cortar sempre , sem mutilar o sentido , numa linha depurativa , em que o poema não sinta falta de adereços para ser compreendido. Ou como diz Octávio Paz : "o poema é uma obra sempre inacabada , sempre disposta a ser completada e vivida por um novo leitor ". O poeta não pode dizer tudo , o leitor tem que interagir com a obra e fazer o resto . Nestes " Vestígios ", embora seja uma obra destinada a uma homenagem , seus poemas cumpriram essa proposta , avesso a parafernálias gráficas e editoriais , sem contorcionismo, para proclamar a poesia vital e impor-se sem firulas . Abraços,  

 

 ronaldo cagiano, Brasília, DF

 
   

li, agora na forma de livro , teus poemas . Os vestígios são   uma insistente presença , sempre viva , mas eternamente negada. É isso que dói, "e como dói." Eu me emocionei, e foi bom compartilhar contigo tais sentimentos .

Abraço forte do

Marcos (Sidnei Euzébio) Santo André, SP

 

Ontem à noite terminei de ler o seu   livro VESTÍGIOS . Todos os poemas me tocaram profundamente . Porque vivi cada    uma dessas horas que descreve no  seu percurso de dor   e perda . se passaram dois anos sobre o falecimento da minha mãe , mas , além de umas " cartas " para ela , não consegui  escrever-lhe uma   única   elegia . Pois ainda me dói muito admitir a sua ausência . Louvo, pois , além da sua ótima poesia , sempre tão concisa e forte , a sua coragem em escrevê-la, voltando-se para    temática tão dolorosa . Mais uma vez   agradeço o volume numerado pela autora. Fico feliz por estar entre os 200 que o mereceram. Grande e fraterno abraço da 

 

Lourdinha (Maria de Lourdes Hortas ) Recife (PE)

 

 

 

 

Muito obrigado pelo envio de “ Vestígios ”, pelo privilégio de fazer-me merecedor de um exemplar dos 200 fora do comércio . Bem sei que o poeta é um fingidor. Creio, porém , que os poemas de “ Vestígios ”, não obstante transfigurados pela linguagem , partiram de um fato real : o falecimento de sua mãe .

Eles , os poemas , são bonitos não pela perda que expressam, mas sobretudo , pelo vazio que procuram preencher . Num poema antigo eu dizia: escrever é um suicídio branco . / um consumir-se/ no fogo brando das palavras .// não escrever , um suicídio em branco . / um consumar-se em metáforas .

Ainda bem que escrevemos.

(...)

 Gostei muito do tom elegíaco que os perpassa, do modo como você soube organizar a tristeza sem pirotecnia , através de versos medidos e comedidos .

Sérgio de Castro Pinto , Cabedelo , PB

 

 

Li, reli e tresli Vestígios , pôs-me ele a alma em desalinho , como quando me acerco de O lado fatal , de Lya Luft, ou Os anos 40, de Rachel Jardim . A morte que ronda e rói cada sílada, cada palavra , cada verso , ceifeira que espera e se desespera quando a poesia se faz como triunfo da vida e do corpo . O que mais dizer , senão que estarei sempre a desvendar Vestígios em suas múltiplas reentrâncias e abismos ...

Fernando Fiorese, Juiz de Fora – MG.

 

 

Que sabemos nós da barca à espera

da passagem do mistério ? – nada

por isso tememos” DTV

Pouco ou nada sabemos da vida e do mistério que a morte envolve o sentimento dos vivos . Neste livro , Vestígios , mais que uma homenagem , a poeta Dalila Teles Veras extravasa e grava  em letras o seu pensamento interior e fala da vida e da morte , mas sem a morbidez dos que lamentam a ausência do ser querido . É a morte como um ritual de passagem , como o fim de um dever cumprido e como uma herança última a receber .

 

Hugo Pontes , na coluna “Comunicar-te Livros ”, 

Jornal da Cidade , Poços de Caldas , MG, 24.10.03

 

Lendo e ouvindo seus Vestígios me surpreendi diante de um livro de Blues . Poesias & poemas arrancados da íntima solidão sobre a perda de um ser amado , num diálogo franco de aceitação & recusa do “ rito de passagem ”. Eis a beleza do blues , o sentimento bruto lapidado & revestido de acordes & harmonias rebrilhando os lamentos   & confortando a dor na plena lucidez da canção ou poema . (...) Há muitos caminhos a serem percorridos por dentro dos seus Vestígios ”, mas prefiro a pausa (leia-se silêncio de partitura ) pelo fato de, nesse nosso espaço de com-vivência, termos sido companheiros em despedidas às nossas mães . Poesia com poesia se paga mesmo quando não somos devedores .

Zhô Bertholini, Santo André, SP

 

 

 

Muito obrigada pela remessa do seu Vestígios ”, que se insere belamente em todo o contexto emotivo e circunstancial de seu trabalho .

Maria José Giglio, São Roque , SP

PARA QUEM PERDEU UM ENTE QUERIDO

                      Nicodemos Sena

 

Livros há que, a despeito de pequenos (pouco volumosos) e aparentemente simples, são capazes de suscitar grandes e complexos sentimentos. É o caso de "Vestígios" (Alpharrabio Edições, Santo André, SP., 2003). Sua autora, Dalila Teles Veras, nasceu em Portugal em 1946, vive no Brasil desde a infância, tendo já uma folha de serviços prestados à cultura brasileira. Além de autora de livros importantes, como "À janela dos dias - poesia quase toda" e "Minudências", dirige a Alpharrabio Livraria e Eidotra em Santo André , SP, ponto de referência cultural na  região do ABCD paulista (site: www.alpharrabio.com.br).

"Vestígios" traz em suas páginas a mais genuína poesia. O livro (na verdade, um opúsculo, pois só tem 40 páginas) compõe-se de de três partes: A rotina dos dias, Um corpo não mais, Da alma em desalinho. Nas epígrafes  (em número de quatro) o leitor encontra indicada a temática do livro. Primeira epígrafe: "o louvor dos mortos é um modo de orar por eles", Machado de Assis. Segunda: "Sofrer passa, o ter sofrido permanece para a eternidade", Santa Teresa D´Ávila. Terceira : "Joy´s recollection is no longer joy, while sorrows memory is a sorrow still, Byron. Quarta: "Do lado esquerdo carrego meus mortos. Por isso caminho um pouco de banda, Carlos Drummond de Andrade.

"Vestígios" é daqueles livros que, uma vez iniciada a leitura, não se consegue parar. É um livro mais para se ler do que para se comentar (aliás, essa é uma característica de todo texto bem urdido). O árduo trabalho, a "luta corporal" com as palavras, oculta-se pela artesania do artista. "Vestígios" é um texto "bem urdido". Dedicado "à memória de minha mãe, Maria de Lourdes, que me iniciou nos caminhos da poesia", informa a primeira página do livro. Tratando de perda (a da mãe que "se foi"), o ganho estético da obra é imenso. Não há uma vírgula, uma exclamação, enfim, sequer uma letra, que seja morta. Exemplifiquemos com o primeiro poema "Terapia intensiva":

"A ceifeira ronda / à volta das máquinas / ao redor dos tubos / no ar infectado de dor / sombra indesejável / A ciência brinca / experimenta, põe e tira / mórbido esconde-esconde / fingida presença de Deus. / Um corpo respira / (a máquina opera o milagre) / um corpo não mais senhor / do gesto, do gosto, do querer / corpo, cobaia, objeto / à mercê do progresso / A ceifeira espera / e sabe da hora / A ciência não". 

Ou no poema "Das mortes": "Da primeira que vez que te vi morrer / a lembrança do horror: / teu corpo (ainda) morno e nu / na pedra fria / e / a marca da dor / num rosto que já não era o teu. / Da segunda vez que te vi morrer / o torpor das exéquias: / pesadelo da tarde sem ar / sensação de estrangulamento. / Da terceira vez que te vi morrer / o choque e o estranhamento: / teu nome citado no templo / na oração aos defuntos / Da última vez que te vi morrer / a dor fina e lancinante / o descarte dos teus pertences / a certeza do nunca mais / nunca... / (a morte também em mim)"

Quem já acompanhou o martírio de um ente querido, o seu lento definhamento físico, a vida se esvaindo como a água entre os dedos, sabe do que a poeta está falando. Mas até quem ainda não se viu cara a cara com a morte será capaz de adivinhar a mensagem da poeta. Mensagem, sim. Dalila Teles Veras é atalaia de uma Mensagem: mensagem da alma, trazida do fundo mais remoto dos tempos, da própria eternidade. Todo homem e toda a mulher, todo ser vivente, guarda reminiscências desse tempo anterior, em que, ainda não tendo sido concebido, já existia. Todo ser vivente traz na alma essa nostalgia das coisas que não viveu (ou de que apenas não tem memória?). Como explicar o sentimento: "Que sabemos nós / seres chorosos / à beira da morte / do outro?", pergunta a poeta. Será que algum homem encontrará a resposta?  

in O Estado do Tapajós (Santarém, Altamira, Oriximiná e Itaituba, 29.1.2004)

 

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